O que é este blog? Nada mais que a pura e simples expressão do ócio.
Bom, aqui vai a primeira postagem.
É um pequeno conto que eu redigi na belíssima paisagem dos campos sepulcrais.
O amante
incógnito
Era uma sexta feira do ano de
1982. Os céus pranteavam finas lágrimas de complacência. Chovia, uma garoa
serena qual aquelas que aprazem o homem que lê a beirada de uma sacada. Não
dessemelhante às nuvens, choravam os homens... Choravam em prol da ignorância
que lhes açoitava o cérebro; choravam o padecimento de um semelhante.
O canto fúnebre seguia as ruelas daquele
cemitério povoado, enquanto o silêncio daqueles que repousavam bradava com
igual veemência. Todas aquelas figuras trajadas de luto, de morte, em contraste
com o tenro semblante daquela que dormia. Morrera uma moça, uma menina linda.
Adormecera em sonhos na aurora da vida. Uma moça morena de longos cabelos e tez
bem corada; os lábios finos, delicados e discretos, qual a flor que não
desabrocha e guarda em segredo o seu viço. Pranteavam, todos, a extinção de um
anjo. Insensatos!
Pairavam na brisa as últimas
nênias; a moça sorria, não em razão do sofrimento alheio, mas sim, em
decorrência de seu desprendimento. Estava ela, agora, liberta a galgar a
amplitude dos prados floridos que outrora sonhara; a tanger novamente o seio da
natureza.
Enfim, o corpo começou a ser
içado às profundezas da sepultura. Os homens fremiam, enquanto as moças
buscavam embuçar suas lágrimas com os véus que traziam consigo.
— Esperem! — um brado grave
manou da multidão. Todos buscaram com os olhos, em consonância, um homem que
completava a última fileira. Estava vistosamente trajado com elegante paletó
negro e seus adornos costumeiros, porém, algo o distinguia dos demais. O
homem,de média estatura, ostentava sobre a face uma belíssima máscara veneziana
que lhe encobria apenas os egrégios e negros olhos enigmáticos. Era uma
daquelas visões romancistas que a princípio causam espanto, porém,
posteriormente fomentam ao estranhamento. O homem aproximou-se da campa em passadas
suaves e flutuantes, parecia deslizar harmoniosamente por entre os salões
daqueles galantes bailes de antigamente. Todos o admiravam com assombro. Então,
enquanto sussurrava palavras incompreensíveis, ele ajoelhou-se diante o cadáver
da Diana, tomou sua mão e roubou seus lábios em um beijo quase etéreo, digno da
apreciação de todas as criaturas celestes. Fez-se daí, então, um alvoroço
tremendo. Todos na multidão queriam palpá-lo, repeli-lo dos braços da moça
desonrada ao delicioso sabor de um beijo, porém, a audácia era atributo de
poucos.
— Deixe-a, insolente! — um
rapaz tentou golpeá-lo, contudo o desconhecido parecia possuir a força de dez
homens. Serenamente o homem ergueu-se e voltou-se à multidão e com a voz
retumbante proferiu:
— Eu a amava. Quarenta mil irmãos não
poderiam, somando seu amor, equipará-lo ao meu.
— E quem é você, bastardo?
— Sabei: — todos se calaram —
Na almofada do mal é Satã Trismegisto quem docemente vosso espírito consola...
O silêncio da covardia
perseverava entre o conjunto de lábios estáticos. Apenas um dentre o conjunto
era possuidor da capacidade de proferir palavras: o desconhecido.
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar...
Contém citações de Shakespeare, Baudelaire e o grandioso Maneco.
Obrigado, pessoas! E não esqueçam de deixar seus comentários! :**
Murilo,
ResponderExcluirAchei que você já tem muita cancha pra sua pouca idade. Parece já ter um estilo formado, com um jeito romãntico de se expressar, atraente e fluido. Parabéns, continue, vá fundo!
Um abraço,
Sandra Daher ( do grupo de leitura do Sebinho)